Escândalo no INSS se agrava: surge denúncia de fraude dentro da fraude

O Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) volta ao centro de mais um escândalo. Desta vez, autoridades federais investigam o que tem sido chamado de “fraude da fraude”: um esquema que consistia na falsificação de documentos para burlar investigações anteriores sobre benefícios irregulares.
A nova etapa das apurações revela um nível ainda mais profundo de corrupção e manipulação dentro do sistema previdenciário brasileiro.
O que é a “fraude da fraude”?
A expressão tem sido usada por investigadores para descrever um novo tipo de irregularidade descoberta no INSS.
Segundo informações do Ministério da Previdência e da Polícia Federal, criminosos estariam falsificando documentos e criando históricos de contribuições fictícias para encobrir fraudes anteriores, já sob investigação ou prestes a serem suspensas.
Ou seja, ao serem pegos em um esquema de benefício fraudulento, alguns envolvidos criam uma nova trama de documentos falsos com o objetivo de “regularizar” o benefício e evitar o cancelamento ou a devolução de valores recebidos indevidamente.
O novo golpe estaria sendo operado por meio de servidores corruptos dentro da própria estrutura do INSS e por intermediários, como despachantes e falsos advogados previdenciários.
Como o esquema foi descoberto
O escândalo veio à tona após auditorias internas do INSS identificarem inconsistências em processos que haviam passado por revisão.
Técnicos da Previdência Social notaram que, mesmo após a identificação de fraudes, certos benefícios continuavam sendo pagos ou eram rapidamente restabelecidos.
A partir dessa constatação, a Controladoria-Geral da União (CGU) e a Polícia Federal iniciaram uma investigação conjunta, que culminou na Operação Reverso, deflagrada em julho de 2025.
Foram cumpridos mais de 30 mandados de busca e apreensão em cinco estados brasileiros. Entre os alvos, estavam servidores públicos, advogados, intermediários e até beneficiários que teriam compactuado com o novo esquema.
Os números do prejuízo
De acordo com dados preliminares da CGU, o rombo causado pela “fraude da fraude” pode superar R$ 120 milhões.
Esse valor se soma aos bilhões que o INSS já perde anualmente com fraudes, de acordo com estimativas do Tribunal de Contas da União (TCU).
Só nos últimos cinco anos, o INSS já cancelou mais de 1,3 milhão de benefícios suspeitos de fraude, o que gerou uma economia de R$ 25 bilhões aos cofres públicos. No entanto, o surgimento de uma nova modalidade de golpe mostra que as medidas de controle ainda enfrentam graves vulnerabilidades.
A participação de servidores
Um dos elementos mais preocupantes do escândalo é a participação ativa de servidores do próprio INSS. Segundo a Polícia Federal, parte dos funcionários investigados teria acessado sistemas internos para alterar dados, incluir períodos fictícios de contribuição e até “forjar” perícias médicas para conceder ou manter benefícios fraudulentos.
Para o delegado responsável pelo caso, trata-se de uma organização criminosa estruturada dentro da máquina pública. “Eles atuavam com divisão de tarefas: enquanto um servidor criava o histórico falso, outro validava os dados, e um terceiro garantida que o sistema não emitisse alertas”, explicou o delegado durante coletiva de imprensa.
Como funcionava a “camuflagem” da fraude
A nova tática descoberta pelos investigadores consistia em criar um segundo processo administrativo para o mesmo beneficiário, com documentos falsos ou adulterados que “regularizavam” o primeiro benefício suspeito. Dessa forma, quando o benefício inicial era questionado, o segundo processo servia como “prova” da legalidade do direito.
Em alguns casos, o golpe envolvia a criação de registros de empregos antigos com empresas fantasmas, contribuição retroativa ao INSS mediante pagamento indevido e até uso de médicos falsos para emitir laudos periciais.
Beneficiários também serão responsabilizados
Segundo o Ministério da Previdência, os beneficiários que conscientemente participaram do esquema também responderão judicialmente.
A pena pode incluir devolução dos valores recebidos indevidamente, bloqueio de bens, e até prisão por estelionato contra a Previdência Social.
“Não estamos falando apenas de pessoas iludidas ou mal informadas. Há beneficiários que buscaram esses serviços de forma deliberada, cientes de que estavam cometendo um crime”, afirmou o ministro da Previdência, Carlos Lupi.
Reação do governo
O governo federal reagiu com firmeza à descoberta do novo esquema. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou a criação de uma força-tarefa permanente contra fraudes no INSS, envolvendo a CGU, a Receita Federal, a Polícia Federal e o próprio Instituto.
Além disso, o INSS deve implementar novas tecnologias de verificação de dados, incluindo cruzamento em tempo real com bases de dados trabalhistas, fiscais e de saúde, além de ampliar o uso da biometria facial e da inteligência artificial para análise de inconsistências.
Mudanças no sistema de concessão
Em resposta à nova onda de fraudes, o INSS anunciou mudanças nos procedimentos de concessão e revisão de benefícios. A partir de agosto de 2025, alguns benefícios — como aposentadorias por invalidez e auxílios-doença — só poderão ser aprovados com verificação presencial complementar e auditoria externa dos documentos enviados digitalmente.
Além disso, a autenticidade das contribuições ao INSS será monitorada mais de perto, com cruzamento de dados junto ao eSocial, ao Cadastro Nacional de Informações Sociais (CNIS) e à base de CNPJs ativos e inativos da Receita Federal.
O papel dos “atravessadores”
Outro destaque da investigação é a atuação dos chamados “atravessadores”, indivíduos que atuam como intermediários entre os beneficiários e o INSS, muitas vezes sem qualquer vínculo legal com os processos. Muitos se passam por advogados ou consultores previdenciários e cobram altos valores por prometerem “soluções rápidas” ou “jeitinhos” para obter o benefício.
Esses atravessadores são responsáveis por parte significativa da produção de documentos falsos, como certidões de tempo de serviço, laudos médicos e comprovantes de contribuição. Alguns deles já têm antecedentes criminais por estelionato e falsificação de documentos públicos.
O alerta aos segurados
Diante da gravidade do escândalo, o INSS emitiu um alerta à população para que evite qualquer tipo de serviço que prometa “facilidade” ou “agilidade” na concessão de benefícios em troca de pagamento. A recomendação é que o segurado sempre busque canais oficiais, como o aplicativo Meu INSS, agências da Previdência Social ou defensores públicos.
“Se alguém prometer uma aposentadoria garantida mesmo que você não tenha tempo suficiente, desconfie. Pode ser fraude — e quem aceita, se torna cúmplice”, ressaltou o presidente do INSS, Alessandro Stefanutto.
Investigações continuam
A Polícia Federal e a CGU confirmaram que novas fases da Operação Reverso estão previstas, com possibilidade de prisões e novas quebras de sigilo bancário e fiscal nas próximas semanas. As investigações devem se estender pelos próximos meses e podem abranger outras regiões do país onde há indícios de esquemas semelhantes.