Quem tem BPC pode trabalhar sem perder o benefício? Entenda as mudanças

O Benefício de Prestação Continuada (BPC), também conhecido como BPC/Loas, é um importante programa de assistência social que garante um salário mínimo mensal para idosos a partir de 65 anos e pessoas com deficiência de baixa renda. Apesar de não ser uma aposentadoria, ele é fundamental para a sobrevivência de milhões de brasileiros em situação de vulnerabilidade.

Uma das dúvidas mais comuns entre beneficiários e familiares é: quem recebe o BPC pode trabalhar? A resposta não é simples, pois existem regras específicas que variam de acordo com o tipo de beneficiário, a renda familiar e o tipo de vínculo empregatício. Entender essas regras é essencial para evitar a suspensão ou o cancelamento do benefício.

A seguir, explicamos em detalhes como funciona essa questão, quais são as possibilidades de trabalhar recebendo o BPC, e quais mudanças na legislação impactam diretamente os beneficiários.

O que é o BPC/Loas e quem tem direito

O BPC é previsto pela Lei Orgânica da Assistência Social (Loas) e garante um salário mínimo mensal (R$ 1.412 em 2025) para dois grupos:

  1. Idosos com 65 anos ou mais, que comprovem renda familiar per capita de até 1/4 do salário mínimo (R$ 353 em 2025).

  2. Pessoas com deficiência de qualquer idade, com impedimentos de longo prazo (físicos, intelectuais, mentais ou sensoriais) que dificultem sua participação plena na sociedade, também dentro do limite de renda exigido.

O benefício não exige contribuição ao INSS e não paga 13º salário. Além disso, ele não é vitalício automaticamente: pode ser reavaliado a cada dois anos no caso de pessoas com deficiência.

Quem recebe BPC pode trabalhar?

A lei prevê algumas situações específicas em que o beneficiário pode ter algum tipo de renda sem perder o direito ao benefício, mas a regra geral é que qualquer aumento na renda familiar per capita acima do limite estabelecido pode levar à suspensão do BPC.

Para entender melhor, é preciso separar os casos de idosos e pessoas com deficiência:

1. Idosos que recebem BPC

Para os idosos, o benefício é suspenso caso passem a exercer atividade remunerada que aumente a renda familiar acima de 1/4 do salário mínimo por pessoa.

Exemplo:

  • Um idoso recebe BPC e mora com mais duas pessoas.

  • A renda total da família é de R$ 600 (R$ 200 por pessoa).

  • Se ele começar a trabalhar e ganhar um salário mínimo (R$ 1.412), a renda familiar per capita passará para R$ 670,66, ultrapassando o limite.

  • Nesse caso, o benefício será cortado.

Portanto, para idosos, não existe a possibilidade de trabalhar formalmente ou informalmente e manter o benefício, a menos que a renda extra seja muito baixa e não ultrapasse o teto permitido.

2. Pessoas com deficiência que recebem BPC

Para pessoas com deficiência, existe uma regra especial prevista na legislação, que permite trabalhar sem perder o benefício imediatamente.

De acordo com a Lei 13.981/2020, o beneficiário do BPC que ingressar no mercado de trabalho formal pode ter o benefício suspenso temporariamente, e não cancelado. Essa medida é chamada de suspensão voluntária e funciona assim:

  • O beneficiário comunica ao INSS que vai trabalhar com carteira assinada.

  • O benefício é suspenso, mas pode ser reativado automaticamente caso a pessoa perca o emprego em até 5 anos.

  • Durante esse período, não é necessário fazer uma nova perícia ou passar novamente por todo o processo de concessão.

Essa regra foi criada para incentivar a inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho, sem o medo de perder o benefício definitivamente.

Trabalho informal e BPC: atenção redobrada

Muitos beneficiários tentam complementar a renda com trabalhos informais, acreditando que, por não haver registro em carteira, o INSS não ficará sabendo. No entanto, essa prática envolve riscos.

O cruzamento de dados do Cadastro Único (CadÚnico), da Receita Federal e do próprio eSocial permite que o governo identifique movimentações financeiras, declarações de imposto de renda e contribuições previdenciárias. Caso seja detectada renda não informada que eleve a média familiar acima do limite, o benefício pode ser cancelado e o beneficiário obrigado a devolver valores recebidos indevidamente.

Programas de inclusão e incentivo ao trabalho

O governo federal possui iniciativas para incentivar a contratação de pessoas com deficiência que recebem BPC, como:

  1. Lei de Cotas (Lei nº 8.213/91) – obriga empresas com 100 ou mais empregados a preencher parte de seus cargos com pessoas com deficiência.

  2. Acordos com empresas para oferecer vagas inclusivas e adaptações no ambiente de trabalho.

  3. Suspensão temporária do BPC para permitir retorno rápido ao programa caso o emprego não seja mantido.

Essas medidas buscam reduzir a dependência exclusiva do benefício e aumentar a autonomia financeira dos beneficiários.

Como comunicar o INSS ao começar a trabalhar

Quem recebe BPC e pretende trabalhar deve seguir alguns passos para evitar problemas:

  1. Informar ao INSS imediatamente sobre a mudança na renda, por meio do aplicativo Meu INSS, telefone 135 ou agência da Previdência Social.

  2. Atualizar o Cadastro Único (CadÚnico), incluindo os novos rendimentos da família.

  3. Solicitar a suspensão voluntária do benefício (no caso de pessoa com deficiência).

O não cumprimento dessas etapas pode levar ao cancelamento definitivo do BPC e à necessidade de devolução de valores.

O que acontece se o beneficiário perder o emprego?

No caso de pessoa com deficiência que teve o BPC suspenso por conseguir emprego e depois foi demitida, basta comunicar ao INSS para reativar o benefício. Isso pode ser feito:

  • Pelo aplicativo Meu INSS (opção “Solicitar restabelecimento de benefício suspenso”);

  • Pelo telefone 135;

  • Presencialmente, em uma agência do INSS.

O prazo de cinco anos para reativação sem nova perícia é contado a partir da data da suspensão.

Diferença entre suspensão e cancelamento

  • Suspensão: o pagamento é interrompido temporariamente, mas o direito é mantido. Pode ser revertido sem precisar refazer todo o processo de concessão.

  • Cancelamento: o benefício é encerrado definitivamente. Para voltar a receber, é necessário fazer um novo pedido e passar por todo o processo de análise.

Essa diferença é fundamental para entender porque a comunicação com o INSS é tão importante.

Cuidados para não perder o BPC indevidamente

  • Manter o CadÚnico atualizado: a falta de atualização por mais de dois anos pode levar ao bloqueio do benefício.

  • Informar mudanças na renda e na composição familiar: o INSS cruza dados periodicamente.

  • Guardar documentos que comprovem gastos e renda, para facilitar eventuais revisões.

  • Ficar atento a convocações para perícia ou revisão: não comparecer pode resultar em suspensão.

Impacto do trabalho na vida do beneficiário

Para muitos beneficiários, o medo de perder o BPC é um grande obstáculo para entrar no mercado de trabalho. No entanto, no caso de pessoas com deficiência, a regra de suspensão temporária busca justamente oferecer segurança para tentar uma vaga.

Para idosos, a situação é mais delicada, pois qualquer renda extra que ultrapasse o limite pode cortar o benefício. Nesse caso, é preciso avaliar com cuidado se o trabalho compensa financeiramente.

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