Cheque sobrevive a era do Pix: R$ 211 bilhões movimentados no 1º semestre de 2025

Apesar da consolidação do Pix como meio de pagamento dominante, o cheque ainda resiste no Brasil: nos primeiros seis meses de 2025, 50 milhões de cheques foram compensados, movimentando R$ 211 bilhões.
Embora o volume represente uma queda de 21,9 % em relação ao mesmo período do ano anterior, o valor médio por cheque subiu 14,2 %, evidenciando que essa forma de pagamento continua relevante em transações de maior valor.
Dados do uso de cheques no Brasil
Dados da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) mostram que, entre janeiro e junho de 2025, foram compensados 50 milhões de cheques, com movimento financeiro de R$ 211 bilhões.
Comparativamente, no mesmo período de 2024 foram 64 milhões de cheques, totalizando R$ 236 bilhões. A queda de quase 22 % no volume reforça a tendência de substituição pelo digital, mas o cheque não desaparece.
Crescimento do valor médio por cheque
Enquanto o uso diminui, o valor médio dos cheques aumentou de R$ 3.606 (2024) para R$ 4.118 (2025), alta de 14,2 %.
Esse movimento indica que o cheque permanece como forma de pagamento preferencial em transações de maior valor, especialmente em contextos corporativos ou em situações que envolvem maiores prazos ou confiança entre partes.
Quilômetros até o Pix: onde o cheque ainda se mantém
Segundo o diretor-adjunto da Febraban, Walter Faria, as empresas continuam responsáveis por mais de 50 % dos cheques emitidos, muitas vezes utilizados como forma de parcelamento ou crédito em pagamentos a fornecedores, por confiança e prazos estendidos.
Entre pessoas físicas, o cheque ainda aparece em situações específicas: quando há vínculo de confiança com o lojista, oferecem prazos maiores ou descontos — e representam alternativa enquanto o cartão de crédito não é viável ou disponível.
O contexto do Pix e as mudanças nos meios de pagamento
O Pix, lançado em novembro de 2020, revolucionou o mercado: gratuito, disponível 24 horas e instantâneo, conquistou o país. Só em dezembro de 2024, atingiu 6,4 bilhões de transações, com volume de R$ 2,7 trilhões.
No primeiro semestre de 2025, o Pix registrou 37 bilhões de transações, superando R$ 13 trilhões em volume.
Além disso, novas normas, como a inclusão de Pix e cartões na e-Financeira da Receita Federal para monitoramento de transações, reforçam a fiscalização digital sem implicar cobrança extra.
Esse ambiente propiciou expansão, mas também expos cheques sua relevância em nichos específicos de mercado.
Justificativas para a persistência do cheque
Por que o cheque ainda não aumentou o número de competidores tradicionais? Alguns motivos:
Título executivo: o cheque tem peso legal, sendo utilizado como garantia jurídica – útil em aluguéis, cauções ou negociações envolvendo valores elevados.
Inclusão em áreas com acesso digital limitado: em regiões com má conectividade, o cheque ainda funciona como alternativa confiável.
Preferência histórica: dentre comerciantes mais tradicionais e setores como agronegócio, certos padrões de pagamento ainda se mantêm com cheques por costume ou facilidade.
Perspectivas Futuras: Fim inevitável do cheque?
Apesar da queda vertical de quase 96 % desde 1995, o cheque ainda exerce influência em segmentos nichos da economia.
Especialistas apontam que sua extinção será gradual — uma “morte morrida” — e não abrupta, como ocorreu com o DOC.
Conforme avança a inclusão digital, a adoção de sistemas de pagamento invisíveis — que operam sem a ação direta do usuário no momento — deve acelerar esse processo.
Impacto Econômico e Cultural
A trajetória de uso do cheque reflete mais do que uma mudança tecnológica: é uma transição cultural. O aumento de valor médio por cheque sinaliza que, mesmo na era digital, o papel ainda se firma em relações estruturadas, segmentadas por confiança, segurança jurídica ou limitação tecnológica.
Em paralelo, a ascensão avassaladora do Pix demonstra que o futuro dos pagamentos é digital, instantâneo e acessível — e só crescerá.