Inteligência Artificial: revolução ou um dos maiores engodos da humanidade?

Nos últimos anos, a inteligência artificial (IA) passou de uma promessa restrita a laboratórios de pesquisa para se tornar pauta diária em jornais, empresas e governos.

Algoritmos que imitam a linguagem humana, sistemas que diagnosticam doenças e robôs que desenham obras de arte ganharam espaço no imaginário coletivo como se estivéssemos diante de uma nova revolução industrial.

No entanto, por trás do entusiasmo, cresce uma corrente de críticos que enxergam a IA não como um divisor de águas, mas como aquilo que já foi chamado de “um dos maiores engodos que a humanidade já produziu”.

Esse posicionamento pode soar radical diante das manchetes que anunciam máquinas inteligentes dominando o mercado de trabalho ou superando capacidades humanas.

Mas o argumento se sustenta em uma análise cuidadosa: até que ponto a inteligência artificial é realmente inteligente? E até que ponto ela não é apenas uma poderosa ferramenta de marketing, alimentada por expectativas exageradas e interesses econômicos?

A promessa grandiosa da IA

Desde a década de 1950, pesquisadores sonham em criar máquinas capazes de pensar como humanos. Alan Turing, matemático britânico, chegou a propor um teste para verificar se uma máquina poderia se passar por uma pessoa em uma conversa. Décadas depois, esse sonho parece mais próximo, com chatbots, assistentes virtuais e sistemas que reconhecem imagens com precisão impressionante.

Empresas de tecnologia divulgam a IA como a “próxima grande fronteira”. Aplicativos de tradução em tempo real, diagnósticos médicos baseados em big data e até carros autônomos são frequentemente apresentados como provas de que estamos prestes a viver uma transformação irreversível. Bilhões de dólares são investidos em startups de IA, e governos elaboram legislações específicas para regular o setor.

Nesse cenário, seria natural acreditar que estamos diante de uma tecnologia comparável à invenção da eletricidade ou da internet. No entanto, vozes dissonantes chamam atenção para o outro lado da moeda.

O argumento do “engodo”

Para críticos, a IA não passa de um rótulo exagerado. Muitos sistemas que hoje são apresentados como inteligentes se baseiam em técnicas estatísticas sofisticadas, mas distantes de qualquer tipo de consciência ou raciocínio autônomo.

Um exemplo é o funcionamento de modelos de linguagem: eles não compreendem de fato o que dizem, apenas calculam probabilidades de quais palavras fazem sentido em determinada sequência. Isso os torna eficientes em parecer humanos, mas incapazes de formular pensamento crítico ou consciência.

O filósofo Hubert Dreyfus já alertava, nos anos 1970, que a IA se apoiava em uma concepção equivocada de inteligência, confundindo regras formais com entendimento humano. Décadas mais tarde, especialistas como Gary Marcus, professor da Universidade de Nova York, reforçam esse ponto ao dizer que o setor está vivendo uma bolha de expectativas semelhante à da internet nos anos 2000.

Assim, quando alguém afirma que a IA é um dos maiores engodos já produzidos pela humanidade, a crítica não se refere apenas à tecnologia em si, mas à narrativa construída em torno dela.

O papel do marketing e do capital

A percepção de que a inteligência artificial é um engodo também se relaciona com o interesse econômico das grandes corporações. Empresas de tecnologia dependem da ideia de inovação constante para manter seus lucros e atrair investidores. Assim, associar produtos a “IA” se tornou uma estratégia poderosa para valorizar ações e atrair recursos.

Quantos aplicativos que prometem “inteligência artificial” de fato vão além de algoritmos de recomendação? Quantas startups não se apresentam como pioneiras em IA apenas para aumentar sua relevância no mercado, mesmo que seu produto seja um simples software de automação?

Essa onda de marketing cria uma percepção inflada da tecnologia, levando consumidores a acreditar que estão diante de algo quase mágico, quando, na prática, lidam com cálculos matemáticos aplicados em larga escala.

Exemplos de ilusões criadas pela IA

  1. Carros autônomos – Apresentados como o futuro da mobilidade, ainda enfrentam problemas técnicos e éticos. Acidentes fatais mostraram que a tecnologia está longe de ser plenamente confiável.

  2. Chatbots – Apesar de sua sofisticação, muitas vezes cometem erros graves de interpretação, inventam informações e não conseguem manter uma conversa com verdadeira compreensão de contexto.

  3. Reconhecimento facial – Vendas globais impulsionadas por promessas de segurança e eficiência, mas diversos estudos apontam vieses raciais e falhas que colocam em risco direitos individuais.

  4. Medicina preditiva – Algoritmos prometem diagnosticar doenças antes dos médicos, mas frequentemente são limitados pela qualidade dos dados e pela dificuldade de replicar resultados em ambientes reais.

Esses casos demonstram que a tecnologia, embora útil, está longe da narrativa de máquinas autônomas com inteligência comparável à humana.

Os riscos sociais do engodo

Tratar a IA como algo quase onipotente pode gerar consequências sérias. Entre elas:

  • Substituição exagerada da mão de obra: governos e empresas podem justificar cortes de empregos alegando que “a máquina faz melhor”, quando, na prática, os sistemas ainda dependem fortemente de supervisão humana.

  • Concentração de poder: poucas empresas controlam os algoritmos mais avançados, criando monopólios digitais e reduzindo a transparência sobre como as decisões são tomadas.

  • Manipulação da opinião pública: o uso de IA em campanhas políticas ou na criação de desinformação mostra que a tecnologia pode ser uma arma de manipulação em massa.

  • Perda da confiança social: se a narrativa em torno da IA for desmascarada como um engodo, a população pode desacreditar da própria ciência e da inovação, prejudicando avanços legítimos.

O contraponto: avanços reais e impactos positivos

Por outro lado, não se pode negar que a IA trouxe ganhos concretos. Sistemas de análise de imagens ajudam médicos a detectar câncer em estágios iniciais. Algoritmos de previsão climática permitem salvar vidas em casos de enchentes e furacões. Ferramentas de acessibilidade, como leitores automáticos de texto para deficientes visuais, ampliam a inclusão social.

Esses avanços não podem ser ignorados. O problema não está na tecnologia em si, mas na forma como ela é vendida ao público. É possível reconhecer que a IA é útil e poderosa em determinados contextos, sem transformá-la em mito ou ameaça existencial.

Inteligência ou automação sofisticada?

Talvez a maior confusão resida na palavra “inteligência”. O que chamamos de inteligência artificial, na prática, é uma automação estatística em grande escala. Máquinas não possuem consciência, emoções ou valores; elas apenas processam dados segundo regras matemáticas.

Chamá-las de “inteligentes” pode ser conveniente para o marketing, mas induz a uma percepção equivocada. Em vez de perguntar se a IA é um engodo ou uma revolução, talvez devêssemos questionar: estamos usando as palavras certas para descrevê-la?

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