Fim do benefício! Quem tem painel solar em casa poderá pagar mais caro na conta de luz

A instalação de painéis solares residenciais, uma alternativa cada vez mais comum para redução da conta de luz, enfrenta agora uma mudança regulatória que pode reverter o cenário favorável.
O governo federal estuda eliminar ou reduzir os subsídios concedidos à microgeração e minigeração distribuída — ou seja, sistemas solares conectados à rede de distribuição — implicando que quem instalou painéis em casa poderá ver a economia menor ou mesmo uma conta mais alta.
A proposta integra o pacote de reforma do setor elétrico em tramitação no Congresso Nacional e abrange consumidores residenciais, comerciais e rurais.
A medida preocupa porque altera o modelo de compensação e subsídio que, até agora, favorecia fortemente quem gerava energia em casa, sobretudo aqueles que instalaram sistemas antes de determinados marcos regulatórios.
Como funciona hoje a geração distribuída e seus incentivos
Desde a promulgação do Lei 14.300/2022 — que criou o “Marco Legal da Geração Distribuída” — os consumidores residenciais, comerciais ou rurais que instalaram painéis solares (sistemas de microgeração até 75 kW ou minigeração até 5 MW) e conectaram-se à rede puderam injetar o excedente de energia na rede da concessionária e obter créditos em sua conta de luz.
Para quem solicitou conexão até 6 de janeiro de 2023, a regra prevê isenção de cobrança do uso da rede (tarifa de distribuição) até 31 de dezembro de 2045. Essa condição forma o chamado “direito adquirido” para esses sistemas.
Assim, muitos consumidores que adotaram a tecnologia aproveitam forte economia com a conta de energia — ao gerar, consumir e compensar parte ou todo o consumo com créditos.
O que muda com a proposta de ajuste regulatório
Segundo a equipe econômica do Ministério da Fazenda, o atual modelo de compensação gera “distorções” no sistema elétrico, pois parte dos custos da rede de distribuição acabam sendo repassados aos demais consumidores — ou seja, aqueles que não têm geração própria.
A proposta prevê que, a partir de 2026 ou outro cronograma ainda a definir, todos os microgeradores, independentemente da data de instalação, passem a contribuir de forma mais expressiva para o custo da rede — especialmente a parcela chamada “Fio B” (tarifa de uso da rede de distribuição) que até agora era reduzida ou zerada para muitos sistemas.
Na prática, isso significa que o abatimento de créditos de energia — ou o valor da energia que injetam na rede — será menor para quem instalar sistema após determinado marco, e quem já instalou poderá ter regras de transição para assumir parcela de custo.
O valor estimado do subsídio atualmente é da ordem de R$ 14,3 bilhões por ano — de acordo com cálculo da Fazenda — o que alimenta o argumento de que o modelo precisa ser reequilibrado.
Além disso, a Medida Provisória 1.300/2025, publicada em 17 de setembro de 2025, abre caminho para que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) institua “modalidades tarifárias multipartes” para microgeração, ou seja, mais componentes tarifários para quem gera e injeta energia.
Quem será impactado — e como isso afeta quem já tem painel solar
Consumidores que instalaram até janeiro de 2023
Para quem instalou o sistema até 6 de janeiro de 2023, existe uma proteção regulatória de isenção de cobrança de uso da rede até 2045 — ou seja, o direito adquirido permanece conforme legislação vigente.
No entanto, a proposta do governo sugere que até esses sistemas possam, em futuro, ser incluídos em regras de transição mais rápida, o que gera incerteza.
Consumidores que instalaram após janeiro de 2023
Para sistemas homologados depois dessa data, a transição já prevê cobrança gradual do componente de rede (tarifa “Fio B”) — por exemplo: 15% em 2023, 30% em 2024, 45% em 2025, chegando a 90% em 2028 segundo estimativas de consultorias especializadas.
Com a nova proposta, esse cronograma pode ser antecipado ou mais agressivo, o que significa que a economia esperada com painel solar pode ser significativamente reduzida.
Impacto direto na conta de luz
Para quem gera e injeta energia, o abatimento de créditos significa menor valor a pagar. Se a compensação for reduzida ou se for cobrada tarifa de uso da rede sobre o excedente, o benefício cai.
Por exemplo: se você injeta 500 kWh e o desconto antes era próximo do total, agora pode ocorrer cobrança de 45% ou mais do componente da rede sobre esse valor — reduzindo a economia.
O resultado: mesmo com painel solar instalado, o consumidor pode ver uma conta de luz mais alta do que esperava ou o retorno do investimento sendo prolongado.
Motivações e argumentos em torno da mudança
O governo alega que as mudanças são necessárias para garantir “justiça tarifária”: que todos os usuários da rede paguem adequadamente pela infraestrutura de distribuição — transformadores, cabos, manutenção, perdas técnicas — e que não haja subsidiação cruzada exagerada.
Por outro lado, entidades do setor solar, como a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR), alertam para o risco de “insegurança regulatória” e desestímulo aos investimentos em energia limpa.
A economia solar tem papel relevante na transição energética e no cumprimento de metas de renováveis. Reduzir incentivos abruptamente pode frear esse avanço no país.
Consequências práticas para o setor residencial e comercial
Retorno do investimento prolongado: com menor compensação e maior tarifa de uso da rede, o pay-back da instalação de painéis solares pode subir de 4-6 anos para 7-10 ou mais, dependendo do sistema.
Menor atratividade para novas instalações: consumidores que ainda estavam planejando adotar sistema solar podem repensar ou atrasar a decisão se as regras mudarem.
Pressão sobre o mercado de geração distribuída: empresas de instalação, manutenção e financiamento de sistemas solares residenciais podem enfrentar menor demanda ou necessidade de ajustar modelos de negócio.
Risco de desequilíbrio energético: se muitos consumidores deixarem de instalar ou reduzirem investimento em solar, o impacto na expansão de fontes renováveis pode ser negativo para o setor de energia.
Maior complexidade tarifária: consumidores com geração própria precisarão acompanhar melhor as tarifas, percentuais de compensação, prazos de transição e possíveis cobranças adicionais.