Boa notícia! SUS amplia acesso a tratamentos para endometriose

O Sistema Único de Saúde (SUS) dará um importante passo no enfrentamento da endometriose, doença que atinge cerca de 1 em cada 10 mulheres em idade reprodutiva no Brasil.
A partir deste ano, o Ministério da Saúde anunciou a inclusão de novos tratamentos no rol de procedimentos ofertados gratuitamente pela rede pública.

A medida promete ampliar o acesso a terapias mais modernas e individualizadas, aliviando a dor e melhorando a qualidade de vida de milhares de brasileiras.
A decisão, publicada em portaria no Diário Oficial da União, faz parte de uma estratégia mais ampla de fortalecimento da saúde da mulher.
Entre as principais novidades, estão técnicas cirúrgicas menos invasivas, medicamentos hormonais atualizados e a ampliação do atendimento especializado em unidades de referência.
O que é a endometriose?
A endometriose é uma condição inflamatória crônica causada pelo crescimento do endométrio — tecido que reveste o útero — fora da cavidade uterina.
Esse tecido pode se espalhar para os ovários, trompas, intestino e até a bexiga, provocando dores intensas, infertilidade e outros sintomas debilitantes.
A doença costuma se manifestar durante o período fértil da mulher e pode levar anos para ser diagnosticada, muitas vezes sendo confundida com cólicas menstruais comuns ou outras condições ginecológicas.
Entre os sintomas mais frequentes estão:
Cólica menstrual intensa;
Dor pélvica crônica;
Dor durante a relação sexual;
Sangramentos menstruais irregulares;
Dificuldade para engravidar;
Fadiga e desconforto intestinal.
Avanço no tratamento público
Até recentemente, o SUS ofertava tratamentos limitados à endometriose, focando basicamente em métodos cirúrgicos tradicionais e no uso de medicamentos genéricos, como anticoncepcionais combinados.
A nova política do Ministério da Saúde muda esse cenário ao introduzir terapias mais modernas, como:
Cirurgia videolaparoscópica de alta complexidade, com menor tempo de recuperação;
Tratamentos hormonais com progestagênios isolados e antagonistas de GnRH;
Abordagem multidisciplinar com fisioterapia pélvica, suporte psicológico e acompanhamento com nutricionistas;
Protocolos específicos para casos severos e recidivas.
Segundo a secretária de Atenção Primária à Saúde, o objetivo é permitir que mulheres com diferentes graus da doença tenham acesso a um atendimento completo, desde o diagnóstico precoce até o tratamento adequado, com foco na humanização e na redução do sofrimento.
Impacto social e econômico da doença
A endometriose é uma das doenças ginecológicas que mais afetam a qualidade de vida da mulher brasileira. Estima-se que a condição seja responsável por até 40% dos casos de infertilidade feminina no país.
Além disso, os sintomas podem interferir diretamente na rotina de trabalho, estudos, relacionamentos e saúde mental.
Estudos mostram que mulheres com endometriose perdem, em média, semanas de produtividade por ano, devido à dor incapacitante e ao cansaço.
Muitas delas enfrentam um longo percurso até o diagnóstico — em média, entre 7 a 10 anos. A ampliação do tratamento pelo SUS pode representar uma virada nesse cenário, democratizando o acesso ao cuidado e evitando complicações mais graves.
Tratamento multidisciplinar e humanizado
Uma das grandes mudanças da nova política é o incentivo ao cuidado multidisciplinar. Em vez de tratar a doença de forma isolada, o SUS passará a integrar diferentes especialidades, como ginecologia, psicologia, fisioterapia, nutrição e enfermagem especializada.
A abordagem integrada é fundamental, pois a endometriose não afeta apenas o corpo físico, mas também o bem-estar emocional e social da mulher.
O apoio psicológico será parte essencial do novo protocolo, com oferta de grupos terapêuticos e atendimento individualizado, principalmente em casos de dor crônica e infertilidade.
Além disso, a fisioterapia pélvica será incorporada como tratamento complementar, ajudando a reduzir a dor e a melhorar o funcionamento muscular da região pélvica.
Centros de referência serão ampliados
Outro pilar do programa é a ampliação dos centros de referência em endometriose. Atualmente, existem poucos serviços especializados vinculados ao SUS, o que obriga muitas mulheres a enfrentarem longas filas de espera ou a buscarem atendimento em outras cidades.
Com o novo plano, o Ministério da Saúde pretende credenciar novos centros em todas as regiões do país, priorizando capitais e cidades-polo com grande demanda reprimida.
Essas unidades contarão com equipamentos modernos, equipes especializadas e capacidade para realizar desde exames de imagem até cirurgias de alta complexidade.
A meta é diminuir o tempo entre o diagnóstico e o início do tratamento, garantindo atendimento mais rápido e eficaz.
Novos medicamentos na rede pública
Outra mudança importante está na incorporação de medicamentos de última geração no SUS. Entre os fármacos aprovados, estão os análogos de GnRH e progestagênios de uso contínuo, que reduzem a atividade hormonal e ajudam a controlar a progressão da doença.
Esses medicamentos já são utilizados na rede privada há alguns anos, mas seu custo elevado os tornava inacessíveis para grande parte da população.
Com a decisão de incluí-los no SUS, o tratamento da endometriose poderá ser feito com mais eficácia, evitando intervenções cirúrgicas precoces ou desnecessárias.
O processo de aquisição dos novos medicamentos será conduzido de forma gradual, com priorização de casos moderados a graves e acompanhamento rigoroso por especialistas.
Capacitação de profissionais de saúde
Além da ampliação dos serviços, o governo federal anunciou um programa de capacitação dos profissionais da atenção básica, que são a porta de entrada do SUS.
A ideia é formar médicos, enfermeiros e agentes comunitários para identificar os sinais da endometriose de forma precoce e encaminhar os casos para os serviços especializados.
A formação será feita por meio de cursos a distância e presenciais, com apoio de universidades públicas e sociedades médicas.
A medida visa reduzir o tempo médio de diagnóstico, que ainda é alto no Brasil, e garantir um cuidado mais eficiente desde o primeiro atendimento.
O que muda para as mulheres?
Com todas essas mudanças, as mulheres com suspeita ou diagnóstico confirmado de endometriose terão acesso a:
Diagnóstico precoce e preciso;
Exames avançados, como ultrassom com preparo intestinal e ressonância magnética;
Tratamentos medicamentosos modernos;
Cirurgias minimamente invasivas;
Acompanhamento multidisciplinar;
Apoio psicológico e orientações nutricionais;
Menos burocracia para encaminhamentos e consultas.
Esses avanços representam não apenas um ganho em termos de saúde pública, mas também um sinal de valorização da saúde feminina, historicamente negligenciada em muitos aspectos.
Reações da sociedade civil
Entidades como a Associação Brasileira de Endometriose e Ginecologia Minimamente Invasiva (SBE) e grupos de apoio a pacientes comemoraram o anúncio. Para muitas mulheres, essa é uma vitória após anos de luta por visibilidade e acesso digno ao tratamento.
Nas redes sociais, pacientes e influenciadoras digitais que convivem com a doença compartilharam mensagens de esperança e alívio.
“Esperei por isso durante 15 anos. Fui tratada como exagerada, preguiçosa, histérica. Agora sei que muitas outras não precisarão passar pelo que eu passei”, escreveu uma usuária no X (antigo Twitter).