Países fazem propostas ao Banco Central para conectar sistemas ao Pix; projeto pode começar entre 2025 e 2026

O Banco Central do Brasil (BC) recebeu recentemente propostas formais de dois países interessados em conectar seus próprios sistemas de pagamentos ao Pix, indicando um movimento de internacionalização da ferramenta brasileira de pagamentos instantâneos.
Segundo apuração, a autoridade monetária já avalia essas demandas, e há expectativa de que o assunto entre no cronograma de desenvolvimento entre 2025 e 2026. A iniciativa representa um passo potencialmente transformador para o Pix fora das fronteiras nacionais.
Se aprovada, poderá consolidar o Brasil como referência mundial em sistemas de pagamentos instantâneos interligados. Mas a proposta carrega obstáculos técnicos, regulatórios e de priorização interna ao Banco Central.
Propostas internacionais chegam ao Pix: cenário e motivações
Os dois países enviaram propostas formais ao BC, com interesse em integrar seus sistemas financeiros ao Pix brasileiro. Até o momento, os nomes dessas nações não foram divulgados. A administração do BC ainda precisa decidir se prioriza esse esforço frente a outras frentes consideradas estratégicas.
Se o aval for concedido, o cronograma previsto é que o processo de integração comece em 2025, embora não haja expectativa de conclusão imediata — trata-se de um processo gradual e complexo. A instituição reconhece que será necessária realocação de recursos, o que pode impactar outras agendas de relevância.
Esse movimento reflete o crescimento do interesse externo pelo Pix como modelo eficaz de pagamentos instantâneos, especialmente em um contexto global onde a interoperabilidade e a integração de sistemas transfronteiriços ganham destaque.
Desafios técnicos, regulatórios e de recursos
A internacionalização do Pix não é algo simples. O diretor de Organização do Sistema Financeiro e Resolução do BC, Renato Gomes, já havia manifestado cautela em relação a essa agenda, destacando que o uso de recursos limitados deveria esperar definições mais claras de mercados importantes, como Estados Unidos e União Europeia.
Entre os desafios técnicos mais relevantes estão:
adaptação do protocolo Pix (SPI / APIs) para operar entre jurisdições distintas;
compatibilidade entre normas de segurança, criptografia e autenticação nos dois (ou mais) sistemas envolvidos;
sincronização de liquidações entre diferentes moedas e regimes monetários;
atendimento a requisitos regulatórios locais de supervisão bancária, prevenção à lavagem e compliance.
Do ponto de vista regulatório, haveria a necessidade de criar acordos entre jurisdições para permitir que Brasil e outros países compartilhem informações transfronteiriças de pagamentos e fiscalizem operações.
Isso exige negociações diplomáticas, alinhamento de normas de dados pessoais e segurança, além de adaptações das leis locais.
Além disso, para o BC, há uma questão de prioridades internas: recursos humanos, técnicos e orçamentários são limitados.
Realocar esforços para a internacionalização do Pix pode significar postergar outras iniciativas consideradas urgentes para o sistema financeiro e digital no Brasil.
Contexto do Pix: consolidação e domínio no Brasil
Para entender o peso da proposta, vale recapitular o papel que o Pix já exerce no Brasil:
O Pix é o sistema de pagamentos instantâneos mantido pelo Banco Central, operando 24 horas, 7 dias por semana, inclusive feriados.
Desde seu lançamento oficial em novembro de 2020, o Pix rapidamente se tornou o meio de pagamento mais utilizado no país, superando transferências tradicionais (DOC, TED) e influenciando o uso de cartões e boletos em muitos casos.
A popularidade do Pix demonstra que o Brasil já domina internamente uma infraestrutura avançada de transações rápidas, com grande penetração entre pessoas físicas e jurídicas.
Esse grau de maturidade torna o Pix atraente para outros países que desejem evoluir seu sistema de pagamentos instantâneos sem partir do zero.
Assim, ao receber propostas internacionais, o Brasil explora uma vantagem comparativa: ele já possui uma plataforma ativa, com credibilidade e escala, que pode servir de núcleo para conexões regionais ou globais.
Possíveis modelos de integração e precedentes
Existem diferentes formas pelas quais a conexão internacional poderia ocorrer:
Interoperabilidade via gateways ou hubs – países poderão conectar seus sistemas ao Pix por meio de rotas de liquidação definidas, sem migrar integralmente para o protocolo brasileiro.
Adoção plena do Pix em outra jurisdição – um país poderia adotar o Pix como padrão local, integrando completamente sua infraestrutura.
Modelos híbridos – parte das transações usa Pix entre países, enquanto o restante segue normas locais.
Embora não existam muitos precedentes diretos de sistemas nacionais de pagamentos instantâneos sendo conectados internacionalmente em larga escala, o tema de pagamentos transfronteiriços instantâneos é cada vez mais presente em debates globais.
Países e blocos econômicos estudam como tornar transferências internacionais tão rápidas e baratas como os pagamentos locais. O Brasil já levou essa discussão ao fórum do BRICS, apresentando relatórios sobre uso de moedas digitais e Pix em operações integradas entre países.
No Brasil, o Pix já tem sido testado informalmente em países vizinhos, especialmente na Argentina, para brasileiros que desejam evitar taxas de câmbio elevadas e usar o real via Pix. Porém, a conexão oficial e regulada com sistemas estrangeiros é um passo mais ambicioso.
De acordo com informações, o Banco Central avalia incorporar o projeto no cronograma entre 2025 e 2026. A ideia não é completar a integração de imediato, mas iniciar o processo e estabelecer bases regulatórias e técnicas nesse período.