Por que algumas cidades prosperam com arranha-céus bilionários, enquanto outras lutam por água potável?

Você já se perguntou por que Dubai, Singapura ou Nova York são repletas de arranha-céus reluzentes, com shoppings de luxo e infraestrutura futurista, enquanto outras cidades no mundo mal conseguem fornecer água potável ou energia elétrica confiável à sua população? À primeira vista, a resposta pode parecer óbvia: dinheiro. Mas de onde vem esse dinheiro? E por que ele nunca chega a certas partes do planeta?
A desigualdade urbana entre as cidades do mundo é um fenômeno antigo, mas vem se acentuando nas últimas décadas com o avanço da globalização e da tecnologia.
Entender por que algumas cidades se tornaram centros de riqueza e inovação, enquanto outras permanecem atoladas em pobreza, envolve mergulhar em uma teia de história, geopolítica, economia e até decisões acidentais do passado.
Herança colonial e o nascimento da desigualdade
Muitas das cidades mais pobres do mundo estão localizadas em países que sofreram longos períodos de colonização.
Durante os séculos XV ao XX, potências europeias dominaram vastas regiões da África, Ásia e América Latina, explorando seus recursos naturais e estruturando as cidades coloniais para extrair riquezas — não para desenvolvê-las.
Enquanto cidades como Londres e Paris enriqueciam às custas das colônias, centros urbanos na África e América Latina eram deixados com infraestrutura mínima, voltada apenas para facilitar o transporte de bens para a Europa. Isso criou um desequilíbrio estrutural que persiste até hoje.
Cidades como Kinshasa (República Democrática do Congo), Daca (Bangladesh) ou Porto Príncipe (Haiti) carregam os efeitos dessa herança colonial, com governos frágeis, baixa industrialização e pouca capacidade de investimento em infraestrutura básica.
Localização geográfica: sorte ou azar?
Outro fator fundamental é a localização. Grandes cidades ricas geralmente estão em pontos estratégicos de comércio, portos naturais ou em regiões com clima e solo favoráveis.
Nova York, por exemplo, cresceu graças à sua localização como ponto de entrada para o comércio atlântico. Cingapura é um entreposto marítimo vital na rota entre a Europa e a Ásia.
Em contraste, cidades localizadas em regiões áridas, montanhosas, de difícil acesso ou sujeitas a desastres naturais têm muito mais dificuldade para se desenvolver. Muitas vezes, até o acesso à água potável — recurso básico — é um desafio geográfico.
No entanto, há exceções curiosas: Dubai, localizada em pleno deserto, conseguiu contornar suas limitações geográficas por meio de investimentos bilionários em infraestrutura e tecnologia de dessalinização — algo impensável para países com menos recursos financeiros e reservas de petróleo.
A força da política e da governança
Enquanto fatores históricos e geográficos têm peso, o papel da política não pode ser subestimado. Cidades em países com governos estáveis, instituições sólidas e políticas públicas eficazes tendem a atrair mais investimentos, tanto nacionais quanto estrangeiros.
Por exemplo, após a independência, Cingapura adotou uma política de forte controle estatal aliado ao livre mercado, atraindo empresas multinacionais e transformando uma pequena ilha sem recursos naturais em um dos centros financeiros mais poderosos do mundo.
Já em países marcados por corrupção, conflitos internos ou instabilidade política, mesmo cidades com potencial de crescimento acabam estagnadas. A falta de políticas públicas eficazes, a má gestão de recursos e a ausência de planejamento urbano comprometem qualquer chance de progresso.
O papel da economia globalizada
Na era da globalização, as cidades passaram a competir entre si como se fossem empresas. Algumas se especializaram em tecnologia, outras em finanças, turismo, logística ou indústria pesada. Cidades que conseguiram atrair multinacionais e talentos globais passaram a gerar riquezas imensas.
São Paulo, por exemplo, apesar das desigualdades internas, tornou-se uma das cidades mais ricas da América Latina justamente por se consolidar como um polo financeiro e industrial. Já cidades sem infraestrutura ou mão de obra qualificada ficaram à margem da nova economia.
O curioso é que a economia global tende a concentrar riqueza nas mesmas regiões, criando um efeito de “bola de neve”: cidades ricas atraem mais investimentos, que geram mais empregos, que atraem mais talentos, que geram mais inovação — enquanto cidades pobres permanecem estagnadas por falta de oportunidades.
Urbanização acelerada e caos nas metrópoles pobres
Outro fenômeno curioso é que muitas das cidades mais pobres do mundo são também as que mais crescem. Cidades africanas e sul-asiáticas enfrentam um boom populacional, mas sem o devido planejamento urbano. Isso leva à expansão desordenada, favelização, falta de saneamento, trânsito caótico e insegurança.
Enquanto isso, cidades ricas crescem de forma mais planejada, com sistemas de transporte público eficientes, zonas urbanas bem definidas e serviços públicos de qualidade. A desigualdade urbana se manifesta não só na renda, mas na própria forma como a cidade é construída.
Investimentos seletivos e “ilhas de riqueza”
É comum ver cidades pobres com pequenos enclaves ricos, como bairros empresariais, zonas turísticas ou áreas de influência internacional. Mas esses investimentos são seletivos e geralmente não beneficiam a população como um todo.
Em muitas cidades do sul global, grandes obras de infraestrutura — como hotéis de luxo, rodovias ou estádios — são feitas para agradar investidores ou eventos internacionais, enquanto os bairros periféricos seguem sem água, esgoto ou energia.
Isso cria a impressão enganosa de progresso, mas a realidade cotidiana da maioria dos moradores continua precária. É o caso de cidades como Lagos (Nigéria), Joanesburgo (África do Sul) ou mesmo partes do Rio de Janeiro.
A desigualdade que não é só entre países, mas dentro das cidades
O mais surpreendente é que, muitas vezes, a desigualdade não está apenas entre cidades de diferentes países, mas dentro das próprias cidades. Em metrópoles como Mumbai, Cidade do México ou São Paulo, mansões milionárias dividem o mesmo espaço urbano com favelas e ocupações precárias.
Essa desigualdade urbana interna revela que não é apenas uma questão de país rico ou país pobre, mas de como a riqueza é distribuída dentro das próprias sociedades.