Pagar com o relógio está virando moda — mas é seguro?

Nos últimos anos, os relógios inteligentes deixaram de ser apenas um acessório tecnológico para se tornarem verdadeiros assistentes de bolso — ou melhor, de pulso. Além de monitorar passos, batimentos cardíacos e sono, eles agora também permitem realizar pagamentos por aproximação. Basta encostar o relógio na maquininha e pronto: a compra está feita. Mas será que essa tecnologia é realmente segura?
A saber, com a popularização de dispositivos como Apple Watch, Samsung Galaxy Watch e modelos com Google Wallet, cresce o interesse — e também as dúvidas — sobre a segurança dessa forma de pagamento. Entenda como o sistema funciona, quais são os riscos envolvidos e o que fazer para proteger suas informações financeiras.
Como funciona o pagamento por aproximação nos relógios inteligentes
O pagamento por aproximação, ou contactless payment, utiliza a tecnologia NFC (Near Field Communication), que permite a troca de dados entre dispositivos próximos — geralmente a uma distância de até 4 centímetros. Essa mesma tecnologia é usada em cartões com o símbolo de “ondas” e em smartphones com carteiras digitais.
No caso dos relógios inteligentes, o processo é simples: o usuário cadastra um cartão de crédito ou débito em um aplicativo específico, como Apple Pay, Samsung Pay, Google Wallet ou Garmin Pay. Ao aproximar o relógio da maquininha, a transação é feita automaticamente, sem necessidade de inserir senha, desde que o valor esteja dentro do limite permitido.
Além da praticidade, esse tipo de pagamento tem crescido rapidamente. Segundo dados da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), cerca de 60% das transações presenciais com cartões em 2025 já são feitas por aproximação — e o uso de wearables (dispositivos vestíveis) representa uma fatia cada vez maior desse volume.
Por que o pagamento por aproximação é considerado seguro
Apesar de parecer arriscado encostar o pulso em uma maquininha para pagar uma compra, especialistas em segurança digital afirmam que o método é seguro — desde que o usuário adote alguns cuidados básicos.
O principal motivo está no sistema de tokenização, uma camada extra de proteção implementada pelas bandeiras e bancos. Em vez de transmitir os dados reais do cartão durante a compra, o relógio envia um código criptografado temporário, chamado de “token”. Esse código só pode ser usado uma vez e não revela nenhuma informação sensível, como número do cartão, validade ou código de segurança.
Além disso, para autorizar o uso da carteira digital, o relógio exige uma autenticação prévia — que pode ser uma senha, reconhecimento facial (no caso de integração com o smartphone) ou até leitura biométrica. Se o dispositivo for retirado do pulso, ele automaticamente bloqueia o pagamento até que seja desbloqueado novamente.
Segundo André Sanches, especialista em cibersegurança, o nível de proteção dos pagamentos por aproximação em wearables é até maior que o dos cartões físicos:
“Enquanto um cartão pode ser perdido ou copiado, o relógio depende de autenticação e criptografia para funcionar. As chances de alguém conseguir realizar uma transação não autorizada são extremamente baixas.”
Mas existem riscos? Sim — e eles merecem atenção
Mesmo com todo o avanço tecnológico, nenhuma forma de pagamento é 100% à prova de falhas. No caso dos relógios inteligentes, os principais riscos estão ligados ao roubo, perda ou falhas de configuração.
Se o usuário não tiver ativado bloqueios como senha ou PIN, um criminoso pode tentar usar o relógio para fazer pequenas compras por aproximação. Embora os limites de valor para transações sem autenticação sejam baixos, o prejuízo pode acontecer.
Outro ponto de atenção é a vinculação de múltiplos cartões no mesmo dispositivo. Em busca de praticidade, muitos consumidores cadastram diferentes meios de pagamento, mas acabam esquecendo de revisar ou excluir cartões antigos. Isso aumenta a superfície de ataque em caso de invasão de conta.
Há também o risco de phishing — golpes em que criminosos tentam enganar o usuário por meio de links falsos ou notificações falsas de atualização. Ao clicar, a vítima pode acabar concedendo acesso às suas informações bancárias ou ao login da carteira digital.
E, por fim, existe a engenharia social. Mesmo com toda a segurança digital, o elo mais fraco costuma ser o humano. Um golpista pode, por exemplo, tentar aproximar uma maquininha disfarçada do pulso de uma pessoa distraída em locais cheios, como metrôs ou eventos. Embora os especialistas considerem esse cenário improvável, ele não é impossível.
O que fazer para se proteger
Para manter o pagamento por aproximação via relógio inteligente seguro, o usuário deve seguir algumas recomendações simples, mas eficazes:
Ative a autenticação obrigatória.
Sempre mantenha um PIN, senha ou método biométrico configurado no relógio. Assim, mesmo que o dispositivo seja perdido, ninguém poderá usá-lo para pagar.Bloqueie o relógio automaticamente.
Configure o bloqueio automático quando o relógio for retirado do pulso. A maioria dos modelos possui essa função, e ela é essencial para evitar uso indevido.Revise periodicamente os cartões cadastrados.
Verifique se há cartões antigos ou desativados na carteira digital. Exclua o que não estiver em uso.Desative o pagamento remoto.
Caso o relógio seja roubado, é possível bloqueá-lo ou apagar os dados à distância. Utilize o recurso “Buscar iPhone” (Apple) ou “Encontrar meu dispositivo” (Android) imediatamente.Evite redes Wi-Fi públicas.
Nunca configure ou atualize carteiras digitais em conexões inseguras. Prefira usar a rede móvel ou o Wi-Fi doméstico.Fique atento a golpes.
Desconfie de mensagens pedindo atualização de cartões ou confirmação de identidade. As operadoras e bancos não solicitam esse tipo de informação por e-mail ou SMS.
Comparação com outras formas de pagamento
Em termos de segurança, o pagamento por aproximação em relógios inteligentes é comparável — e muitas vezes superior — ao uso de cartões ou celulares.
Cartões físicos: podem ser clonados, copiados ou usados indevidamente se perdidos.
Celulares com NFC: oferecem segurança avançada, mas podem ser mais vulneráveis caso o aparelho esteja desbloqueado.
Relógios inteligentes: exigem autenticação, são bloqueados ao serem retirados do pulso e usam tokenização.
Na prática, o relógio inteligente é uma das formas mais seguras e convenientes de pagar pequenas compras no dia a dia, desde que configurado corretamente.
E quanto à privacidade dos dados?
Outro tema que desperta preocupação é o uso de dados pessoais e financeiros pelos fabricantes dos dispositivos. De acordo com políticas de privacidade de empresas como Apple, Samsung e Google, as informações sobre transações não são armazenadas nem compartilhadas com lojistas.
O sistema apenas confirma a autorização da compra e o valor, sem transmitir dados do cartão. O histórico de pagamentos, no entanto, pode ser visualizado pelo usuário no aplicativo da carteira digital — o que ajuda no controle financeiro.
Mesmo assim, é importante ler atentamente os termos de uso e verificar quais dados o fabricante coleta para fins de análise ou publicidade.
O futuro dos pagamentos por aproximação
Com a aceleração da transformação digital e a busca por praticidade, o pagamento por aproximação tende a se tornar ainda mais comum — e integrado a novos dispositivos. Já há testes com anéis inteligentes e até pulseiras fitness capazes de substituir cartões.
No Brasil, bancos e fintechs também ampliam o suporte a carteiras digitais, o que deve popularizar ainda mais os pagamentos contactless. De acordo com projeções da Abecs, até 2026, cerca de 75% das transações presenciais devem ser feitas por aproximação, sendo que os dispositivos vestíveis responderão por uma parte crescente desse volume.