Novo teste rápido revela metanol em bebidas pela simples mudança de cor

Nos últimos anos, casos de intoxicação por bebidas adulteradas têm crescido de forma alarmante no Brasil e em diversos países. A adulteração com metanol, um tipo de álcool altamente tóxico, está entre os principais fatores que colocam em risco a saúde pública.

Em meio a esse cenário, cientistas desenvolveram um teste rápido e de baixo custo capaz de identificar a presença dessa substância em destilados e outras bebidas alcoólicas. A detecção ocorre por meio de uma mudança de cor, visível a olho nu, o que pode representar um avanço importante na luta contra a falsificação e no fortalecimento da segurança alimentar.

O perigo invisível do metanol

O metanol, também conhecido como álcool metílico, é utilizado principalmente na indústria química e como solvente. Diferente do etanol — o álcool presente nas bebidas consumidas socialmente —, o metanol é extremamente tóxico para o organismo humano. Quando ingerido, mesmo em pequenas quantidades, pode causar cegueira, insuficiência renal, danos neurológicos graves e até a morte.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), surtos de intoxicação por metanol são registrados frequentemente em países em desenvolvimento, onde a fiscalização sobre bebidas alcoólicas pode ser falha. No Brasil, autoridades sanitárias como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) têm intensificado os alertas à população, especialmente em períodos de festas, quando o consumo de destilados cresce.

Um dos maiores desafios é que o metanol não possui sabor ou odor distintivos em comparação ao etanol, o que torna sua detecção impossível para o consumidor comum sem auxílio de técnicas laboratoriais. É justamente nesse ponto que o novo teste rápido se torna uma ferramenta promissora.

O funcionamento do teste

Pesquisadores de universidades brasileiras, em parceria com centros internacionais de tecnologia, desenvolveram um método simples: pequenas tiras de papel ou soluções reagentes que, ao entrarem em contato com a bebida suspeita, sofrem uma alteração de cor caso haja metanol em concentração acima do limite seguro.

O processo funciona de forma semelhante a testes de glicose ou de pH. As tiras são impregnadas com substâncias químicas que reagem especificamente com o metanol, liberando compostos que provocam a mudança de tonalidade. Assim, em apenas alguns minutos, é possível identificar se uma amostra de cachaça, vodca, uísque ou outro destilado contém adulteração perigosa.

Além de ser rápido, o teste tem como vantagem o baixo custo de produção, o que pode viabilizar sua distribuição em larga escala. Pesquisadores acreditam que ele poderá ser usado por bares, restaurantes, distribuidores de bebidas e até consumidores finais, como uma medida preventiva.

Um problema de saúde pública global

A falsificação de bebidas alcoólicas é uma prática antiga e lucrativa para criminosos. Ao substituir parte do etanol por metanol, que é mais barato e acessível, os falsificadores conseguem reduzir custos e aumentar lucros. Contudo, o impacto dessa prática é devastador.

De acordo com relatórios da OMS, milhares de mortes por intoxicação com metanol são registradas todos os anos, especialmente em países da Ásia, África e América Latina. No Brasil, surtos ocasionais já deixaram dezenas de vítimas. Em 2022, por exemplo, casos em cidades do interior paulista chamaram a atenção da mídia, após consumidores de pinga artesanal adulterada desenvolverem sintomas graves.

O desafio para as autoridades está em identificar e retirar do mercado essas bebidas ilegais antes que cheguem ao consumidor final. Até então, a detecção dependia quase sempre de análises laboratoriais demoradas e caras, limitando a resposta rápida. O teste de cor surge, portanto, como um aliado poderoso no combate a esse crime.

Reações da comunidade científica e da indústria

A inovação foi recebida com entusiasmo tanto por especialistas em saúde pública quanto pela indústria de bebidas. Para pesquisadores, o teste pode funcionar como uma ferramenta de triagem inicial, permitindo a identificação de lotes suspeitos de forma imediata e reduzindo a necessidade de análises laboratoriais apenas aos casos positivos.

Já para produtores sérios e regulamentados, a tecnologia representa uma forma de proteger a reputação das marcas contra falsificadores, que frequentemente usam garrafas e rótulos falsos para enganar consumidores. “Esse tipo de teste rápido fortalece a cadeia produtiva formal, porque ajuda a diferenciar o produto legítimo da bebida adulterada”, destacou um representante da Associação Brasileira de Bebidas (Abrabe).

Como o consumidor poderá se beneficiar

Embora o produto ainda esteja em fase de validação e regulamentação, há expectativa de que o teste chegue ao mercado em kits acessíveis. A ideia é que qualquer pessoa possa comprar uma embalagem com várias tiras reagentes e utilizá-las em casa ou em festas, bastando mergulhar a tira em uma pequena amostra da bebida antes do consumo.

Caso a coloração da tira mude para tons específicos (como verde ou vermelho, dependendo da formulação), a recomendação será descartar imediatamente a bebida e não consumi-la. Isso pode salvar vidas, especialmente em situações em que garrafas compradas de fontes duvidosas levantam suspeitas.

Importância da conscientização

Apesar do avanço tecnológico, especialistas reforçam que a prevenção ainda é a melhor estratégia. O consumidor deve sempre priorizar a compra de bebidas em estabelecimentos de confiança, verificar se o lacre da garrafa está intacto e desconfiar de preços muito abaixo da média de mercado.

“Não adianta termos uma tecnologia de ponta se a população não estiver informada sobre os riscos do consumo de bebidas adulteradas”, afirma a toxicologista Ana Cláudia Ribeiro, que atua em hospitais de São Paulo. Segundo ela, campanhas de conscientização precisam caminhar lado a lado com a disponibilização do teste rápido.

Próximos passos

Pesquisadores já trabalham para aprimorar o método, buscando aumentar a sensibilidade da detecção e reduzir ainda mais os custos de produção. Outra linha de estudo é desenvolver aplicativos de celular que, ao fotografar a tira reagente, possam interpretar automaticamente a cor e indicar o resultado, minimizando falhas de interpretação humana.

Há também o interesse de órgãos reguladores, como a Anvisa, em avaliar a eficácia do produto e, eventualmente, incorporá-lo como ferramenta oficial de fiscalização em ações conjuntas com a Polícia Federal e vigilâncias sanitárias estaduais.

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