Levar o celular para o banheiro faz mal? Descubra a verdade por trás desse costume

Nos últimos anos, o celular se tornou um companheiro inseparável em praticamente todas as situações do dia a dia. Ele está presente na hora de acordar, no transporte público, nas filas de banco, durante as refeições e, para muitos, até mesmo em momentos de privacidade: o tempo passado no banheiro. Mas será que esse hábito comum pode trazer riscos à saúde?
Especialistas em saúde pública, microbiologia e comportamento humano têm estudado o tema, e os resultados chamam a atenção. O uso do celular no banheiro pode ir muito além de uma simples distração – envolve questões de higiene, saúde física e até psicológica.
O hábito cada vez mais comum
Uma pesquisa realizada pela empresa britânica Initial Washroom Hygiene revelou que mais de 70% das pessoas admitem usar o celular dentro do banheiro. No Brasil, ainda que não haja dados oficiais recentes, a prática parece igualmente disseminada. Basta observar redes sociais ou conversar com amigos para perceber que assistir a vídeos, jogar, responder mensagens ou navegar pelas notícias enquanto se está no vaso sanitário é algo cada vez mais normalizado.
Esse comportamento é impulsionado por dois fatores principais: o tempo de espera que as pessoas querem preencher e a dependência tecnológica que cresceu com os smartphones. “O celular se tornou uma extensão do corpo humano. Estar sem ele gera sensação de ansiedade, e por isso muitas pessoas o carregam até em situações em que, no passado, só havia silêncio e privacidade”, explica o psicólogo comportamental André Salles.
O perigo invisível: as bactérias
Um dos principais pontos de atenção levantados por especialistas é o risco microbiológico. O banheiro, seja público ou residencial, é um ambiente altamente propenso à proliferação de micro-organismos, especialmente devido à descarga do vaso sanitário.
Pesquisas apontam que, ao dar descarga, uma nuvem de partículas microscópicas é expelida no ar, podendo alcançar superfícies próximas, como pias, maçanetas e, claro, o próprio celular. Entre os micro-organismos encontrados nesses ambientes estão Escherichia coli, Salmonella, Enterococcus e Clostridium difficile, todos capazes de causar infecções intestinais e urinárias.
O professor de microbiologia da USP, Fernando Pacheco, alerta:
“O celular, por ser um objeto que permanece muito tempo em contato com as mãos e próximo ao rosto, pode se tornar um veículo eficiente de transmissão de bactérias. Quando o levamos ao banheiro, aumentamos significativamente a chance de contaminação.”
Um estudo publicado no Journal of Hospital Infection demonstrou que os celulares podem abrigar até dez vezes mais bactérias do que a tampa de um vaso sanitário. Isso acontece porque eles raramente são higienizados de forma adequada.
E os riscos para o intestino?
O hábito de levar o celular para o banheiro não está associado apenas à contaminação. Médicos coloproctologistas destacam que o tempo excessivo sentado no vaso sanitário pode favorecer o surgimento de problemas como hemorroidas e fissuras anais.
Segundo a Sociedade Brasileira de Coloproctologia, a recomendação é que a evacuação dure entre 3 e 5 minutos. Porém, quem leva o celular para o banheiro frequentemente permanece mais de 15 minutos sentado, distraído com mensagens e redes sociais.
Essa postura prolongada exerce pressão extra sobre os vasos sanguíneos da região anal, aumentando o risco de inflamações. “O banheiro não deve ser uma sala de leitura ou entretenimento. Quanto mais rápido for esse processo, menor a chance de desenvolver complicações”, explica a médica coloproctologista Adriana Lopes.
O impacto psicológico
Outro ponto que chama a atenção é a relação entre o uso do celular no banheiro e o vício digital. Especialistas em saúde mental afirmam que esse comportamento é um reflexo da necessidade constante de estímulo e da dificuldade em lidar com momentos de pausa.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o uso excessivo de dispositivos eletrônicos pode desencadear quadros de ansiedade, insônia e até sintomas depressivos. O fato de não conseguir se desligar nem mesmo durante a ida ao banheiro é um indicativo da dependência tecnológica.
“Essa prática mostra o quanto estamos perdendo a capacidade de ficar sozinhos com nossos próprios pensamentos. Até no banheiro, buscamos ocupar o tempo com notificações e conteúdos digitais”, comenta a psicóloga clínica Mariana Andrade.
Pode fazer bem em algum aspecto?
Apesar dos riscos, alguns estudiosos argumentam que o uso do celular no banheiro pode trazer certos benefícios subjetivos. Para pessoas com rotinas estressantes, esse momento pode funcionar como um breve período de relaxamento e desconexão do ambiente externo.
Além disso, em alguns casos, assistir a vídeos ou ouvir música pode ajudar a aliviar a ansiedade relacionada ao ato de evacuar, especialmente em quem sofre de constipação crônica. Contudo, médicos reforçam que tais benefícios não superam os riscos higiênicos e físicos já comprovados.
O que dizem os especialistas em higiene
Higienistas e infectologistas são categóricos: o ideal é não levar o celular ao banheiro. Mas, se o hábito já faz parte da rotina, alguns cuidados podem reduzir os riscos:
Evite apoiar o celular em superfícies do banheiro. Essas áreas são altamente contaminadas.
Higienize o aparelho com frequência. Panos com álcool isopropílico a 70% são recomendados para limpar a tela e a capa.
Lave bem as mãos após usar o banheiro. Esse passo básico ainda é negligenciado por parte da população.
Reduza o tempo de permanência sentado. Use o banheiro apenas pelo tempo necessário para a evacuação.
Considere momentos sem celular. Transformar a ida ao banheiro em um espaço livre de tecnologia pode ser um exercício saudável de desconexão.
A visão cultural do hábito
É interessante notar que a relação entre leitura e banheiro não é nova. Antes dos celulares, muitas pessoas levavam revistas, jornais e até livros para o vaso sanitário. A diferença é que esses objetos não permaneciam em contato constante com o rosto e as mãos, nem circulavam em tantos ambientes diferentes quanto o celular.
No entanto, a popularização dos smartphones intensificou o fenômeno e aumentou os riscos de disseminação de bactérias, já que o mesmo aparelho é usado para atender ligações, comer e até colocar no rosto durante videochamadas.
O futuro do hábito
Com o avanço da tecnologia, novas soluções de higiene estão surgindo. Já existem no mercado capas com proteção antibacteriana e até caixas esterilizadoras por luz ultravioleta (UV-C) que prometem eliminar grande parte dos micro-organismos presentes nos aparelhos.
Ainda assim, especialistas concordam que nenhuma medida substitui a prevenção mais eficaz: manter o celular longe do banheiro sempre que possível. A conscientização sobre os riscos é o primeiro passo para mudanças de comportamento.