Bolsa Família atinge menor número de beneficiários desde 2022; cerca de 27 milhões de famílias a menos

O programa de transferência de renda federal Bolsa Família alcançou, em outubro de 2025, o menor nível de cobertura desde julho de 2022 — com aproximadamente 18,9 milhões de famílias beneficiadas.
Esse número representa uma queda relevante em relação ao fim de 2022, quando o total era de 21,6 milhões de famílias. A redução, de cerca de 2,7 milhões de famílias, tem chamado atenção tanto dos analistas como das equipes de assistencialismo social.
Neste texto, mostramos o que explica esse recuo no número de beneficiários, os motivos apontados pelo governo e especialistas, bem como os impactos sociais – e os desafios que persistem.
O panorama da queda no Bolsa Família
O número de pagamentos do Bolsa Família caiu de 21,6 milhões em dezembro de 2022 para 18,9 milhões em outubro de 2025. O programa tem o menor número de inscritos em três anos.
Em julho de 2025 cerca de 536 mil famílias deixaram de receber o benefício porque atingiram o prazo máximo da “Regra de Proteção” ou por aumentarem a renda.
Cerca de 27 milhões de famílias saíram do programa — uma cifra que, embora soe muito acima das estatísticas que circulam, representa um acumulado de saídas desde a reformulação do programa.
Esse comparativo reforça a ideia de uma “limpeza” e ajuste do cadastro do programa.
Principais razões para a saída das famílias
A queda no número de beneficiários do Bolsa Família pode ser atribuída a vários fatores — alguns positivos, outros mais preocupantes. Eis os principais:
1. Aumento da renda familiar
Uma parcela expressiva das famílias deixou o programa porque melhorou de condição econômica — ultrapassando os limites de renda exigidos. Por exemplo, em julho de 2025 cerca de 1 milhão de domicílios saíram por esse motivo. Ainda, levantamento apontou que entre as famílias que saíram, 42% passaram a receber mais de meio salário-mínimo por pessoa. O governo destaca esse dado como indício de que o programa cumpre parte de seu objetivo: tirar famílias da vulnerabilidade.
2. Implementação da “Regra de Proteção”
A “Regra de Proteção” prevê que famílias que melhoraram de renda ou condição podem sair do programa de forma gradual. Por exemplo, quando atingem faixa de renda entre R$ 218 per capita e meio salário-mínimo, têm direito a 50% do benefício por até 24 meses. Após esse período ou com nova renda, deixam de receber. Essa medida intensificou-se a partir de meados de 2025 e explica parte da queda.
3. Revisão cadastral e combate a fraudes
Outra razão citada por especialistas é a revisão dos cadastros, identificação de beneficiários que não mais se enquadram nas condições de vulnerabilidade ou acumularam inconsistências. Embora o governo ressalte que não se trata de “corte em massa deliberado”, esse ajuste explica parte das saídas. Esses três fatores juntos colaboram para que o programa atinja atualmente patamar mais baixo de cobertura.
O que isso significa para o Bolsa Família e a pobreza no Brasil
A redução no número de famílias atendidas pode ter dupla interpretação — positiva e com pontos de atenção:
Aspectos positivos:
Se muitas famílias saem por aumento de renda, isso pode indicar avanço socioeconômico: famílias vulneráveis alcançando maior estabilidade.
A revisão cadastral ajuda a garantir que os recursos públicos sejam direcionados a quem realmente se enquadra nos critérios, aumentando eficiência do programa.
O menor número de beneficiários pode aliviar pressões orçamentárias e permitir ajustes no valor médio do pagamento ou na cobertura de outros grupos em vulnerabilidade.
Aspectos de alerta:
A queda abrupta sem transparência suficiente pode esconder famílias que ficaram de fora por falhas de cadastro, desatualização ou barreiras burocráticas.
Em contextos de instabilidade econômica, retirada prematura do benefício pode voltar a colocar famílias em situação de risco.
A cobertura reduzida do programa pode ter impacto negativo em indicadores de pobreza, insegurança alimentar e desigualdade, caso não haja políticas complementares.
Especialistas em economia social ressaltam que uma saída sustentável do programa requer que a família tenha alternativos de renda, emprego formal ou informal estável, e acesso a serviços públicos básicos. Caso contrário, a retirada do Bolsa Família não significa garantia de manutenção da melhoria de vida.
O que vai acontecer a seguir — e os novos desafios
Para o futuro do Bolsa Família, os analistas apontam alguns vetores de atenção:
Monitoramento da reincidência: É importante acompanhar se famílias que saíram do programa mantêm condição de independência socioeconômica ou se voltam a necessitar do benefício.
Melhoria da articulação com emprego e inclusão produtiva: Para que a saída seja sustentável, é essencial que o programa esteja conectado com políticas de geração de emprego, capacitação e acesso ao mercado formal.
Atualização cadastral e automação: O ritmo de revisão dos cadastros deverá se manter ou intensificar para evitar atrasos ou exclusões indevidas.
Ajuste orçamentário e de valores: Com menor número de beneficiários, o governo pode rever valores médios, indexação e estrutura do benefício para garantir cobertura adequada no contexto de inflação.
Políticas complementares: É preciso desenvolver políticas que atendam famílias em risco logo após saída, para evitar que a melhoria seja transitória.