Metanol nas bebidas: entenda os riscos e por que pode causar mortes

Nos últimos anos, casos de intoxicação por metanol chamaram a atenção das autoridades de saúde no Brasil e no mundo.

Muitas vezes associado à adulteração de bebidas alcoólicas, esse composto químico pode causar sérios danos à saúde e até levar à morte quando ingerido em pequenas quantidades.

Mas afinal, o que é o metanol, como ele acaba misturado em bebidas e por que sua presença representa um risco tão elevado para os consumidores?

O que é o metanol?

O metanol, também conhecido como álcool metílico, é um tipo de álcool simples, diferente do etanol – o álcool presente em bebidas alcoólicas como cerveja, vinho e cachaça. Sua fórmula química é CH₃OH e ele se apresenta como um líquido incolor, de cheiro forte e sabor levemente adocicado.

Apesar de ser semelhante ao etanol em algumas propriedades físicas, o metanol é extremamente tóxico para o organismo humano. É utilizado principalmente na indústria, em produtos como:

  • Combustíveis (álcool automotivo e biodiesel);

  • Solventes;

  • Produção de plásticos e tintas;

  • Matéria-prima para a fabricação de formaldeído.

Ou seja, trata-se de um produto com função essencialmente industrial e que jamais deve ser ingerido.

Como o metanol chega às bebidas alcoólicas?

A presença de metanol em bebidas alcoólicas geralmente não é natural, mas resultado de processos inadequados de fabricação ou adulteração criminosa. Existem duas principais formas pelas quais ele pode aparecer:

  1. Produção caseira ou artesanal sem controle adequado
    Durante o processo de fermentação e destilação, pequenas quantidades de metanol podem ser geradas naturalmente. Em bebidas artesanais, especialmente destilados produzidos de forma irregular, a falta de controle técnico pode levar a concentrações perigosas da substância.

  2. Adulteração criminosa para reduzir custos
    Em alguns casos, falsificadores adicionam metanol a bebidas alcoólicas com o objetivo de aumentar o teor alcoólico ou o volume do produto de maneira mais barata. Essa prática é extremamente perigosa, já que o metanol é de baixo custo e visualmente parecido com o etanol, mas altamente tóxico para o consumo humano.

No Brasil, operações policiais já flagraram fábricas clandestinas que misturavam metanol em cachaças, vodcas e outras bebidas vendidas sem registro oficial. O consumo dessas bebidas adulteradas pode resultar em intoxicações coletivas, como já aconteceu em festas, bares e até em comunidades inteiras.

Por que o metanol é tão perigoso?

O grande risco do metanol está na forma como ele é metabolizado pelo corpo. Quando ingerido, o organismo tenta processá-lo de maneira semelhante ao etanol. No fígado, a enzima álcool-desidrogenase transforma o metanol em formaldeído e, posteriormente, em ácido fórmico – substâncias extremamente tóxicas.

Esses compostos podem causar danos graves ao sistema nervoso central, aos rins, ao fígado e principalmente ao nervo óptico, responsável pela visão. Os sintomas podem surgir poucas horas após a ingestão e incluem:

  • Náuseas, vômitos e dor abdominal;

  • Tontura, dor de cabeça e fraqueza;

  • Dificuldade para respirar;

  • Visão turva ou cegueira temporária;

  • Convulsões e coma.

Segundo estudos médicos, a ingestão de apenas 30 ml de metanol puro pode ser suficiente para causar a morte de um adulto. Doses ainda menores podem provocar cegueira irreversível.

Esse nível de toxicidade torna o metanol um dos maiores riscos quando presente em bebidas alcoólicas adulteradas.

Casos recentes de intoxicação por metanol

No mundo todo, episódios de intoxicação coletiva têm sido registrados. Em 2019, por exemplo, dezenas de pessoas morreram no México após consumir bebidas contaminadas por metanol em um festival. Casos semelhantes foram relatados em países como Índia, Indonésia e República Tcheca, resultando em centenas de mortes nos últimos anos.

No Brasil, órgãos de saúde também monitoram a situação. Em 2022, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) reforçou os alertas sobre os riscos do consumo de bebidas sem registro. Diversos casos de internações foram associados à ingestão de cachaças e destilados clandestinos adulterados com metanol.

Diferença entre etanol e metanol

Muitos se perguntam: se são tão parecidos, por que o etanol pode ser consumido e o metanol não?

A resposta está na forma como cada substância é processada pelo corpo humano. O etanol, quando metabolizado, gera substâncias que o organismo consegue eliminar com maior facilidade, ainda que em excesso também cause intoxicação e danos ao fígado (como ocorre no alcoolismo).

Já o metanol, mesmo em pequenas doses, produz metabólitos que o corpo não consegue neutralizar com eficiência, levando rapidamente ao envenenamento. Além disso, não é possível identificar a presença de metanol apenas pelo sabor ou cheiro, já que ele é muito semelhante ao etanol. Isso torna seu consumo ainda mais perigoso.

Como identificar bebidas adulteradas?

Embora seja difícil identificar a presença de metanol sem testes laboratoriais, alguns cuidados podem ajudar a reduzir o risco de consumir bebidas contaminadas:

  • Verificar o selo de fiscalização: No Brasil, bebidas alcoólicas vendidas legalmente precisam ter o selo fiscal da Receita Federal.

  • Desconfiar de preços muito baixos: Se o valor for muito abaixo do praticado no mercado, pode ser sinal de falsificação.

  • Evitar bebidas de origem duvidosa: Produtos vendidos em garrafas sem rótulo, em embalagens improvisadas ou de procedência desconhecida devem ser evitados.

  • Comprar em estabelecimentos confiáveis: Mercados, distribuidoras e bares legalizados oferecem menos riscos do que pontos de venda clandestinos.

Ainda assim, a única forma segura de detectar metanol é por meio de análise química feita em laboratório.

O tratamento da intoxicação por metanol

Em casos de suspeita de ingestão de metanol, a orientação é procurar imediatamente atendimento médico. O tratamento pode incluir:

  • Administração de etanol ou fomepizol, que competem com o metanol pela enzima álcool-desidrogenase, reduzindo a produção de formaldeído e ácido fórmico;

  • Hemodiálise, para remover as substâncias tóxicas do sangue;

  • Tratamento de suporte, com hidratação e correção de desequilíbrios metabólicos.

O sucesso do tratamento depende do tempo entre a ingestão e o início da intervenção médica. Quanto mais rápido o atendimento, maiores as chances de evitar complicações graves como a cegueira ou a morte.

O papel das autoridades e a importância da fiscalização

Para combater os riscos associados ao metanol, autoridades de saúde e fiscalização intensificam operações contra a produção e venda de bebidas adulteradas. A Anvisa, junto com órgãos como a Polícia Federal e o Ministério da Agricultura, realiza vistorias periódicas em fábricas, distribuidoras e pontos de venda.

Além disso, campanhas de conscientização buscam alertar a população sobre os perigos do consumo de bebidas de origem duvidosa. A legislação brasileira prevê punições severas para quem falsifica bebidas alcoólicas, com possibilidade de prisão e multas altas.

A responsabilidade, no entanto, também recai sobre o consumidor, que deve estar atento e evitar produtos de procedência duvidosa.

Um risco invisível, mas evitável

O metanol é um inimigo silencioso: não tem cor ou sabor distintos e pode facilmente passar despercebido em uma garrafa de bebida alcoólica adulterada. Por isso, a prevenção é a principal arma contra seus efeitos fatais.

Evitar bebidas ilegais, exigir nota fiscal e valorizar a procedência dos produtos são medidas simples, mas que podem salvar vidas. Ao mesmo tempo, a continuidade das operações de fiscalização é essencial para reduzir a circulação de bebidas adulteradas no mercado.

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