Brasileiros rejeitam fracionamento e troca de marca em botijões de gás, aponta pesquisa em 2025

Uma pesquisa do Instituto Locomotiva, divulgada em agosto de 2025, mostra que a maioria dos brasileiros é contrária a mudanças propostas no mercado de GLP (Gás Liquefeito de Petróleo), como a venda fracionada de gás e o enchimento de botijões por marcas diferentes.

Para 92% dos entrevistados, a recarga parcial, sem o botijão completo de 13 quilos, representa risco de vazamento, enquanto 83% rejeitam que recipientes sejam abastecidos por distribuidores que não sejam da marca estampada no vasilhame.

Essas propostas estão no centro da revisão do marco regulatório do GLP promovida pela ANP, que considera flexibilizações futuras — mas esbarra na preocupação com segurança e confiança do consumidor.

Por que os brasileiros rejeitam as mudanças de abastecimento do gás de cozinha?

Segundo Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva, a confiança na qualidade e segurança do produto é prioridade máxima.

Embora 85% dos entrevistados considerem o preço como fator de escolha, 94% apontam a segurança como critério definitivo.

Esse receio está diretamente relacionado ao modelo atual: o botijão vem lacrado, cheio e com a marca em alto-relevo, sinalizando responsabilidade da empresa distribuidora em caso de falhas ou acidentes.

Sem esse elemento visual de identificação e controle, os consumidores temem que o gás seja adulterado ou de menor qualidade — um risco acentuado para famílias das classes C e D, que não têm margem para errar na hora de comprar.

Além disso, 94% dos entrevistados acreditam que o fracionamento abre espaço para o comércio ilegal ou atuação de crime organizado. A falta de rastreabilidade e responsabilização clara seria uma porta aberta para irregularidades.

As propostas da ANP e o debate regulatório 

A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) está revisando o marco regulatório do GLP e considera, entre outras opções, a venda do gás de forma fracionada e o enchimento dos botijões por diferentes marcas.

Segundo a ANP, estudos com os principais distribuidores mostram que o modelo fracionado não necessariamente aumenta os riscos, desde que sejam implementadas fiscalização eficiente e rastreamento.

A proposta seria publicada em resolução, seguida por consulta pública e audiência pública, antes de qualquer mudança ser efetivada.

Isso deixa claro que, mesmo diante da busca por maior eficiência ou possível redução de custos, o governo precisa lidar com os temores do consumidor — uma barreira difícil de superar.

Segurança acima de tudo: o comportamento do consumidor

As percepções colocadas pela pesquisa alinham-se com dados de outras áreas que mostram como o brasileiro prioriza a tranquilidade e segurança na escolha do gás de cozinha.

O botijão lacrado e identificado é visto como garantia de procedência e responsabilidade — essencial em um mercado sensível à adulteração e à informalidade.

O receio do consumidor, especialmente das classes médias e populares, está ligado ao impacto que um produto de baixa qualidade pode gerar: acidentes domésticos, falhas técnicas e até perda de confiança no sistema regulatório.

Essa percepção reforça que, para muitos, a manutenção do modelo tradicional — apesar de possíveis inovações em curso — é sinônimo de certeza e proteção.

Contexto do mercado de gás de cozinha no Brasil

O alto custo do GLP tem levado famílias a recorrer a métodos alternativos — como o uso de lenha ou carvão para cozinhar, especialmente entre os mais pobres.

A quebra de confiança no sistema oficial, no entanto, pode agravar esse cenário: se o botijão perde credibilidade ou aumenta o risco percebido, mais pessoas podem se voltar para opções inseguras e insalubres.

Além disso, a abertura do mercado de gás natural, defendida por setores do governo para reduzir preços, ainda enfrenta obstáculos como a falta de infraestrutura e monopólio da Petrobras.

Assim, mesmo diante de debates sobre inovação, o dilema continua: como equilibrar modernização com confiança e segurança para o consumidor?

Desafios e caminhos para o futuro 

A pesquisa destaca um choque entre inovação e percepção pública: o consumidor quer mudanças, mas não a qualquer custo.

Para que novas propostas avancem, é fundamental que venham acompanhadas de mecanismos robustos de fiscalização e rastreabilidade, garantindo que qualquer alteração não comprometa a segurança do usuário.

Além disso, campanhas de educação do consumidor, explicando como o modelo fracionado poderia funcionar com transparência, podem ajudar a construir confiança e reduzir a resistência.

É necessário também considerar as implicações sociais, sobretudo nas regiões menos favorecidas, para evitar que surjam novas barreiras no acesso ao gás de cozinha seguro e acessível.

O debate caminha, mas assustar o consumidor com mudanças abruptas pode ser contraproducente — sobretudo em um produto essencial como o gás de cozinha.

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