Aposentados são pegos de surpresa com bloqueios em setembro

Milhares de idosos em todo o Brasil foram surpreendidos neste mês com o bloqueio de seus benefícios previdenciários.

O motivo: o não cumprimento do procedimento obrigatório da prova de vida, uma exigência anual necessária para assegurar a continuidade dos pagamentos.

O fenômeno vem gerando apreensão entre os aposentados, especialmente aqueles com menor acesso aos meios digitais, e trazendo à tona falhas nos canais de comunicação e atendimento do INSS.

A suspensão em massa e o susto dos segurados

Segundo reportagem publicada hoje, o INSS suspendeu os pagamentos de cerca de 3 milhões de aposentados e pensionistas, em setembro de 2025, por falta da comprovação de vida. Muitos foram surpreendidos ao perceber que o benefício havia sido interrompido ao tentarem sacar os valores mensais — alguns, inclusive, sem qualquer aviso prévio eficaz.

Apesar da automatização desse processo desde 2023, com cruzamento de dados entre servidores, Receita Federal e cartórios, o mecanismo não cobre todos os casos.

Houve falhas no cruzamento, e muitos segurados não receberam alertas. Essas falhas foram atribuídas principalmente a dados cadastrais defasados ou insuficientes, que impediram a confirmação automática da condição de vida dos beneficiários .

Os maiores afetados e os impactos sentidos

Os idosos com dificuldades de acesso à internet, mobilidade reduzida ou que vivem em áreas remotas — como no interior do Norte e Nordeste — foram os mais afetados.

A suspensão abrupta do benefício causou sérias preocupações: muitas famílias dependem desse recurso para sobreviver. O corte inesperado gerou transtornos como atraso no pagamento de contas, compra de alimentos e medicamentos.

A situação também têm motivado enormes filas nas agências do INSS e nas unidades bancárias conveniadas, conforme relatos de autoridades e dos próprios segurados.

Muitos buscam atendimento presencial para regularizar a situação, diante da dificuldade de operar aplicativos ou lidar com o sistema digital.

O que o INSS oferece como solução

O instituto dispõe de canais digitais e presenciais para regularizar os bloqueios. A reativação do benefício pode ser feita pelo aplicativo ou portal “Meu INSS” (com login gov.br nível ouro), por reconhecimento facial, desde que o segurado tenha biometria cadastrada no TSE ou Detran. Para aqueles que não conseguem esse caminho, opções incluem atendimento em bancos conveniados ou agências do próprio INSS, apresentando documento com foto.

Se o comprovante de vida for realizado, o valor bloqueado costuma ser liberado em até cinco dias úteis. O INSS também amplia a utilização de bancos como a Caixa Econômica e o Banco do Brasil, que permitem a prova de vida via caixa eletrônico com biometria ou aplicativo, e admitiram procuradores para fazer a comprovação em nome de idosos com mobilidade reduzida .

O alerta sobre a comunicação e as fraudes

Um dos principais agravantes é a falha na comunicação com os segurados. Muitos idosos afirmam que não foram notificados corretamente sobre a necessidade de cumprir a prova de vida; algumas vezes, a única mensagem chegou via aplicativo, um canal com baixa acessibilidade para parte do público. Essa situação expõe a dependência de um sistema digital que ainda exclui parte dos beneficiários.

Além disso, a falta de clareza abre espaço para golpes. Em 2025, aumentaram os registros de fraudes em nome da prova de vida: estelionatários passam-se por agentes do INSS, enviando SMS falsos ou até comparecendo às residências, solicitando dados e fotos dos idosos — práticas repudiadas pelo INSS, que alerta que só utiliza canais oficiais como o app, a central 135 e bancos conveniados.

Contexto mais amplo: fraudes, pente‑fino e esquema bilionário

O corte por falta de prova de vida em massa se insere num contexto de intensificação da fiscalização pelo INSS em 2025.

A autarquia implementou auditorias automatizadas, cruzamento de dados e uso de inteligência artificial para combater fraudes sistêmicas. Um dos impactos foi o bloqueio de centenas de milhares de benefícios na malha fina, revertidos conforme regularização.

Paralelamente, veio à tona um escândalo envolvendo descontos indevidos feitos por entidades associativas nas aposentadorias. Denominado como “Farra do INSS”, o esquema resultou em prejuízo estimado em R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024. A Operação “Sem Desconto”, deflagrada em abril de 2025, desmantelou associações, suspeitos e intermediários envolvidos. Entre os impactos, aposentados descobriram descontos não autorizados em seus benefícios.

Embora esse escândalo seja diferente do bloqueio por prova de vida, ambos refletem fragilidades no sistema previdenciário, afetando especialmente os mais vulneráveis.

Vozes de alerta: o caso emblemático de Hermeto Pascoal

Um caso emblemático emergiu em março de 2025: o renomado músico Hermeto Pascoal, 88 anos, teve sua aposentadoria bloqueada duas vezes — inicialmente por não ter feito a prova de vida presencial exigida em Curitiba (local que não frequentava há mais de uma década), e posteriormente por não saque, já que o pagamento não foi retirado dentro do prazo estipulado.

Após repercussão nas redes sociais, o INSS afirmou ter reativado o benefício, mas avisou que, caso o saque não fosse realizado, poderia haver nova suspensão — procedimento padrão também aplicado ao cidadão comum. O caso escancara as dificuldades enfrentadas por idosos com barreiras tecnológicas e revela como até figuras públicas consagradas se veem angustiadas diante da complexidade burocrática.

Reflexões e recomendações para evitar transtornos futuros

Diante do cenário, especialistas e representantes de entidades recomendam medidas práticas:

  1. Manter os dados atualizados — endereço, telefone, e-mail e conta bancária no sistema do INSS são fundamentais para garantir contato eficaz .

  2. Monitorar o benefício regularmente, via aplicativo ou pela central telefônica — antecipar pendências pode evitar a suspensão repentina.

  3. Aproveitar os canais oficiais — prova de vida pode ser feita em bancos conveniados ou procuração regularizada.

  4. Desconfiar de comunicações informaisINSS não solicita dados por SMS ou visita domiciliar; denuncie tentativas de fraude à central 135 ou à Polícia Federal.

  5. Iniciativas coletivas e apoio local — associações de aposentados, centros comunitários e defensoria pública podem auxiliar os idosos menos familiarizados com os meios digitais.

Botão Voltar ao topo