Bloqueio na aposentadoria surpreende beneficiários do INSS em setembro

Setembro de 2025 trouxe uma onda de apreensão entre idosos brasileiros. Em todo o país, beneficiários do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) relataram, às vezes ao checar o extrato bancário, o bloqueio repentino de suas aposentadorias — e, em muitos casos, sem aviso prévio.

Estima-se que 3 milhões de beneficiários estejam com o pagamento suspenso neste mês — um número alarmante que mobiliza famílias, entidades de defesa dos direitos dos idosos e autoridades previdenciárias.

O que está por trás desse bloqueio?

A principal causa apontada para o bloqueio é a falta de realização da prova de vida, procedimento obrigatório e anual para manter ativo o benefício. Embora o INSS tente automatizar esse processo por meio do cruzamento de dados com outros órgãos, ainda há casos em que o beneficiário não é identificado ou não aparece nos sistemas, resultando em cortes abruptos dos pagamentos sem qualquer aviso prévio.

Além disso, a exigência de que a prova de vida seja feita no máximo até 10 meses após a última realização tem sido pouco clara para muitos idosos — o que aumenta as chances de descumprimento dos prazos, especialmente entre aqueles com dificuldades de acesso digital ou que moram longe de agências bancárias .

Em outros contextos, o não saque da aposentadoria por mais de 60 dias também pode causar suspensão temporária, embora esse procedimento geralmente envolva notificações prévias. No caso do músico Hermeto Pascoal, por exemplo, o problema não foi com aposentadoria por idade, mas com o BPC – Benefício de Prestação Continuada — o qual foi suspenso porque ele não sacou os valores dentro do prazo estabelecido.

Por que o bloqueio pegou tantos de surpresa?

Muitos idosos relatam maior sensação de insegurança devido à falta de comunicação clara do INSS. A ausência de avisos por carta, SMS ou ligação agravou a situação — muitos descobriram o bloqueio apenas quando foram ao banco ou tentaram fazer saques.

Além disso, alterações na forma de fazer a prova de vida — que agora pode ser presencial, por bancos conveniados ou utilizando reconhecimento facial via aplicativo Meu INSS — contribuíram para confusão entre os beneficiários, sobretudo aqueles menos familiarizados com recursos digitais .

O que fazer para regularizar a situação?

O desbloqueio da aposentadoria pode ser realizado de forma ágil pelo próprio beneficiário ou por representante. As principais vias são:

  • Aplicativo Meu INSS ou portal online, onde é possível agendar ou fazer prova de vida com reconhecimento facial ou por outros meios;

  • Agências bancárias conveniadas, que aplicam o procedimento presencialmente;

  • Agências do INSS, para quem prefere atendimento presencial.

Em caso de documentação irregular, suspeita de fraude ou erro no cadastro, pode ser necessário abrir um pedido de revisão da aposentadoria, seja on-line ou presencialmente, com apresentação de documentos e comprovações adicionais.

Além disso, o INSS recomenda o acompanhamento frequente do benefício pelo app Meu INSS ou pela central telefônica (135), para evitar surpresas desagradáveis.

Nos primeiros meses de 2025, o INSS chegou a anunciar suspensão temporária de bloqueios por prova de vida, como forma de adaptar os procedimentos e melhorar o cruzamento automático de dados. Uma dessas suspensões foi implementada por seis meses a partir de 1º de janeiro de 2025. Outra portaria foi publicada em janeiro, garantindo brecha durante a transição entre normativas.

No entanto, essa suspensão expirou, e em setembro as exigências estão novamente valendo normalmente, o que explica a concentração dos bloqueios nesse período, surpreendendo muitos beneficiários.

Reforçando a confiança: combate à fraude e falta de clareza

Paralelamente aos bloqueios por prova de vida, o INSS vem enfrentando um esquema bilionário de fraudes envolvendo descontos indevidos em benefícios previdenciários autorizados por associações sem consentimento dos aposentados — conhecido como “Farra do INSS“.

Estima-se que o desvio chegue a R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024, com mais de 4,1 milhões de beneficiários possivelmente afetados. Desde abril de 2025, uma operação denominada “Sem Desconto” mobiliza Polícia Federal e Controladoria-Geral da União, e já levou ao bloqueio de bens de envolvidos.

Esse contexto reforça a necessidade de transparência e proteção dos direitos dos idosos — que, por sua vulnerabilidade, precisam de maior cuidado do Estado.

O impacto na vida dos idosos

Para muitos, a aposentadoria não é apenas uma renda: é a diferença entre ter acesso a medicamentos, alimentação e dignidade. Dados de uma pesquisa (de 2023) apontam que 70% dos idosos consideram que a aposentadoria não é suficiente para viver com conforto, e 49% indicam a saúde como principal preocupação financeira, atrás apenas da alimentação (69%).

Nesse cenário, ter o benefício bloqueado de forma inesperada agrava ainda mais a insegurança financeira. São idosos já fragilizados, muitas vezes sem redes de apoio imediato, sendo surpreendidos por uma suspensão temporária que pode durar dias, semanas — período suficiente para gerar angústia e prejuízos reais.

O que dizem especialistas e entidades

Entidades de defesa dos direitos do idoso alertam para a importância de tornar a comunicação mais eficaz e acessível. A transparência sobre prazos, a obrigatoriedade da prova de vida e canais alternativos para quem não domina o mundo digital são apontadas como fundamentais.

Além disso, especialistas em previdência recomendam que os beneficiários mantenham dados cadastrais atualizados (endereço, telefone, e-mail), e que as famílias fiquem atentas às datas de vencimento da prova de vida — para evitar bloqueios repentinos.

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